Custo do Produto: já é tempo de exorcizar este fantasma contábil

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Custo do Produto: já é tempo de exorcizar este fantasma contábil

 


Eduardo-MouraPense por um instante em um mundo onde não fosse necessário calcular o custo unitário dos produtos que vendemos. Nada de complicadas operações contábeis para distribuir o “overhead” às unidades vendidas, ou a determinados centros de custos. Não teríamos que medir os tempos de processamento, com a finalidade de repartir o custo da “mão-de-obra” direta a cada unidade de produto; imagine! Aposentaríamos o Custeamento ABC e toda a pesada manutenção do sistema informático que o suporta. Esse mundo parece ser o Planeta Carochinha, mas não é. É o nosso mundo mesmo, porém livre das distorções da ultrapassada “Mentalidade do Mundo de Custos”. É o que pretendo demonstrar brevemente neste artigo.

Em uma edição anterior (“Para reduzir custos, não priorize a redução de custos”), citei de passagem o que aprendi de Eli Goldratt, pai da Teoria das Restrições: o “custo do produto” é um fantasma contábil. Embora tenham seu charme para trazer suspense a conversas entre amigos, os fantasmas são seres dispensáveis (exceto para aqueles que cultivam o mórbido prazer de conviver com eles). A Figura 1 ajuda a visualizar o motivo pelo qual podemos (e devemos) mandar, para os porões do esquecimento, o cálculo do custo unitário do produto – CP(u). Para chegar a ele, dividimos o GO – o Gasto Operacional fixo que temos que pagar num dado período – pela quantidade N de unidades vendidas no mesmo período (neste caso estamos usando o volume de vendas como critério de distribuição do gasto fixo, mas poderia ser usado qualquer outro critério, como por exemplo o tempo de “mão-de-obra direta”). Ao GO(u) resultante adicionamos o CTV(u) – Custo Totalmente Variável (valor da matéria-prima, comissão de vendas ou outros custos que variam em proporção direta a cada unidade vendida), e assim obtemos o CP(u). E, para saber que margem de lucro unitária podemos obter, calculamos a diferença entre CP(u) e o Preço de Venda unitário, PV(u). No caso da Figura 1, essa diferença resulta negativa (visualmente), e assim chegamos à conclusão que não seria rentável praticar o valor PV(u) ilustrado. Suponhamos que esse é o preço máximo proposto por um cliente. Concluímos, então, que deveríamos recusar o negócio (dizer “não” para o cliente), para não prejudicar a lucratividade da empresa. E é justamente nesse ponto que nos tornamos vítima do fantasma! Pois, em nome da “eficiência de custo” representada pelo CP(u) jogamos pela janela uma real oportunidade de aumentar a lucratividade! Explico através dos seguintes argumentos:

  • Em primeiro lugar, o Gasto Operacional GO não tem nada a ver com as vendas, pois no final do período teremos que pagar o valor GO, quer vendamos ou não. Portanto, a alocação de GO às N unidades vendidas é totalmente arbitrária, não importa o critério de alocação que definamos.
  • Em segundo lugar (diferentemente do que ocorria no início da Revolução Industrial – quando foi inventada a Contabilidade de Custos), na atual realidade de negócios, GO é uma grande parcela dos custos totais de uma empresa, e a fração GO(u) distorce completamente nossa percepção da realidade e, via de regra, nos leva a tomar a pior decisão! Note que, na Figura 1, ao somar GO(u) para calcular CP(u), perdemos de vista o fato de que a diferença PV(u) – CTV(u),   a “margem de contribuição” unitária, que chamaremos de “Throughput Unitário” T(u), é positiva. Assim, ao recusar o negócio, o que de fato aconteceu não foi que evitamos a perda de N x LL(u), mas sim que desperdiçamos a oportunidade de ganhar N x T(u), que afinal nos ajudaria a pagar o GO. Decisão equivocada, causada por um paradigma obsoleto, mas que por incrível que pareça ocorre todos os dias na maioria das empresas, ainda hoje…

precio_productos

Qual seria, então um melhor modelo analítico? De novo, uma figura vale mais que mil palavras: a Figura 2 ilustra o paradigma do Throughput, que tem o poder de exorcizar o fantasma do custo do produto. Iniciamos calculando o T(u), o throughput unitário: a diferença entre PV(u) e CTV(u). Vale ressaltar aqui que CTV(u) não envolve nenhuma distribuição de custos de qualquer espécie; apenas os custos que incorrem a cada unidade vendida. Multiplicando T(u) pela quantidade vendida N, obtemos o throughput total – T(total) na figura – do qual subtraímos GO para obter LL(total), o lucro líquido final. Note que esta forma de análise mostra com fidelidade o real impacto da decisão (neste caso, aceitar ou não a proposta de negócio). Além disso, não tivemos que fazer qualquer consideração sobre o custo unitário do produto: CP(u) simplesmente não aparece na figura! Portanto, no mundo do Throughput não existe esse fantasma contábil, e assim ficamos livres de todas complicações, custos e atrasos causados pelo pesado sistema de alocação de custos. Esse novo paradigma revela a simplicidade inerente no que tange avaliar o impacto que qualquer proposta específica terá sobre o lucro líquido global da empresa (uma “ponte” difícil de fazer sob o esquema tradicional da Contabilidade de Custos). Em qualquer decisão ou proposta, basta estimar DGO, o aumento do GO causada pela decisão (apenas o valor global, sem qualquer alocação de custo) e o correspondente DT, o aumento do throughput global. Se DT–DGO (o lucro líquido causado pela decisão) é positivo, trata-se de uma boa idéia. Caso contrário, não.

Preciso, fácil, rápido, elegante e… vergonhosamente simples! Faça um teste: calcule o T(u) de pelo menos uma amostra dos produtos de sua empresa, e veja se isso lhe traz uma nova perspectiva em relação a quais produtos deveríamos dar prioridade na comercialização. O resultado normalmente traz surpresas…

 E você? O que pensa sobre este tema? Qualquer comentário será muito bem-vindo.

 Até a próxima edição!

Eduardo C. Moura

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