O poder das premissas

Posted By Eduardo Moura in Blog | 2 comments


O poder das premissas



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Somos seres racionais. Pelo menos foi isso que nos ensinaram (e continuamos aceitando, apesar das incômodas e frequentes evidências que testemunham o contrário). E por sermos racionais, virtualmente tudo o que fazemos está fundamentado em uma ou mais premissas lógicas. Premissa, define o Aurélio, é “um princípio que serve de base à conclusão de um raciocínio.” Logo, premissas geram conclusões lógicas e estas por sua vez determinam nossas atitudes e decisões. De onde podemos concluir que as tais premissas são extremamente poderosas, pois governam nossas ações, comportamentos, cultura e a forma como vemos o mundo ao nosso redor. Aquela definição léxica, porém, não revela um fato de vital importância sobre as premissas: na esmagadora maioria das vezes nós as assumimos sem qualquer questionamento, e nem sequer as trazemos para o nível do consciente. el-poder-de-las-premisasFelizmente, por obra da misericórdia divina, muitas decisões que tomamos estão fundamentadas em premissas totalmente válidas e úteis. Mas é impressionante constatar o quanto, em todos os aspectos da vida, nossas decisões e comportamentos estão fundamentados em premissas inválidas, o que acaba trazendo consequências prejudiciais, quando não desastrosas. Para restringir a discussão ao aspecto empresarial, cito a seguir um venerável mestre da administração moderna, que corrobora o ponto em questão:

“À medida que nos aprofundamos no conhecimento econômico, vemos que as premissas básicas de muito o que é ensinado e praticado sob o nome de ‘gestão’ está irremediavelmente desatualizado… De fato, a maioria de nossas premissas sobre negócios, tecnologia e organização tem pelo menos 50 anos de idade; duraram mais do que deviam… Como resultado, estamos pregando, ensinando e praticando políticas contraproducentes, cada vez mais fora de sintonia com a realidade. Tais premissas, que determinam as coisas para as quais devemos estar atentos e quais devemos ignorar, são normalmente mantidas no subconsciente de professores, escritores e praticantes em todo o mundo. Logo, elas são  raramente analisadas, raramente estudadas, raramente desafiadas, e até mesmo raramente explicitadas.”

 (Peter Drucker, em entrevista na Revista Forbes, 5/Out/98)

O leitor que tem acompanhado meus artigos anteriores há de notar que vários deles foram dedicados a expor e questionar premissas falsas que ainda imperam como eminências pardas no  mundo corporativo. A título de ilustração, seguem alguns exemplos de como [1] premissas equivocadas levam a [2] decisões gerenciais que por sua vez produzem certas [3] consequências desastrosas:

 

  • [1] Se “A redução de custo sempre traz aumento da lucratividade”, então devemos [2] estabelecer projetos e metas de redução de custo para todas as áreas da empresa; o que acaba levando a [3] cortes cegos de gastos que acabam impactando algum aspecto vital para o fluxo de valor, com consequente perda da capacidade de reação quando o mercado se recupera, perda de vendas e perda da lucratividade a médio e longo prazo.
  • [1] “Somos gerentes e executivos experientes, e sabemos sempre como e onde melhorar”, logo [2] não necessitamos realmente criar mecanismos para coletar e implementar as idéias da ‘mão de obra’”, o que leva a [3] perda de inúmeras oportunidades de melhoria  no dia-a-dia de trabalho, alem de causar desmotivação do pessoal.
  • [1] “Já sabemos o que os clientes precisam”, portanto [2] não precisamos criar mecanismos para entender e observar nossos clientes em sua interação com nossos produtos no campo, o que faz com que [3] oportunidades de melhoria e inovação passem desapercebidas.

E a lista poderia continuar com vários outros exemplos, mas esses são suficientes para ter em conta a relevância prática do tema. A próxima consideração é: como podemos detectar premissas inválidas e como sair da camisa de força em que elas sutilmente nos metem? Falta espaço aqui para abordar essa questão em detalhes, mas ofereço uma dica: a adoção de premissas inválidas nos coloca em conflitos ou dilemas (ações opostas que deveríamos tomar, para atender diferentes requisitos ou condições necessárias para conquistar um objetivo comum), e tais conflitos por sua vez acabam causando algum tipo de discrepância, incoerência ou “efeito indesejável” na realidade que vivemos. E, graças a Eli Goldratt, temos uma ferramenta maravilhosa que, a partir do efeito indesejável, nos permite estruturar o conflito e trazer à tona as premissas inválidas, ao mesmo tempo que aponta para uma solução inovadora capaz de eliminar o conflito: é a “nuvem de conflito”, uma das ferramentas utilizadas no processo de raciocínio lógico (o “Thinking Process”) da Teoria das Restrições. Uma vez dominada, a técnica da nuvem de conflito pode ser aplicada toda vez que (através da observação atenta) detectarmos algum problema que nos traga desconforto suficiente para justificar a análise, seja na vida profissional ou pessoal. E para aprender o Thinking Process, sua segunda melhor opção (após o treinamento oferecido pela Qualiplus, é claro!) é o livro “The Logical Thinking Process”, de autoria do meu amigo H. William (“Bill”) Dettmer.

Até a próxima edição!

Eduardo C. Moura
[email protected]


2 Comments

  1. Olá Eduardo.
    Mais um artigo relevante para todos do mundo empresarial e em especial para quem conhece TOC.
    Há tempos procuro um treinamento de TP ou mesmo a formação Jonah, mas não encontro.
    Sou praticante, mas não encontro oportunidade fora de um curso in-company.
    Se houver algo neste sentido, por favor, eu e provavelmente muitas outras pessoas gostariam de conhecer.
    Obrigado.

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    • Olá, Yuri. Aguarde grandes novidades da Qualiplus neste ano, com o Resolve.Guru! Aí vou colocar cursos online de todas as nossas metodologias, e o TP é a prioridade 1. Abraço!

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