Paradigmas 3: o Paradigma do Mundo do Custo

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Paradigmas 3: o Paradigma do Mundo do Custo

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Continuando nossa série sobre paradigmas, abordamos agora uma verdadeira “vaca sagrada” da administração: O Paradigma do Mundo do Custo. Como introdução, recomendo ao leitor dois artigos anteriormente publicados em nosso blog: 1) “Para reduzir custos, não priorize a redução de custos” e 2)  “Custo do Produto: já é tempo de exorcizar este fantasma contábil”.

A essência do Paradigma do Mundo do Custo consiste em crer que “cada dólar economizado é um dólar no bolso”. Logo, partindo da equação Lucro = Preço – Custo e reconhecendo que a questão do preço é algo bastante complexo que se define lá no mercado (mercado esse que constitui uma realidade bem distante da operação da maioria das empresas), dispara-se a ênfase em reduzir custos como a principal, a mais fácil e frequentemente a única opção para ter mais lucro. Bem, antes de iniciar esta breve discussão, vale ressaltar que custo é realmente muito importante e não devemos desperdiçar oportunidades de sermos mais eficientes em custo.

O que na verdade urge uma revisão da mentalidade empresarial dominante é o que diz respeito à prioridade dada à redução de custos (em detrimento de outras coisas mais importantes para a lucratividade final) e também às práticas tradicionalmente utilizadas para “reduzir” custos artificialmente, através da Contabilidade de Custos. Para evidenciar isto, vamos tratar aqui apenas algumas das aplicações mais corriqueiras do paradigma em questão, visando questionar sua validade nos dias de hoje.

Paradigma_do_Mundo_do Custo

Como primeiro exemplo, é comum vermos metas estabelecidas para que a Produção maximize o indicador “taxa de utilização de ativos”, o que por sua vez requer que os recursos produtivos sejam continuamente utilizados para processar grandes lotes, sem interrupção. E para que? Para “diluir” o custo do produto… Por outro lado, isso traz um conflito com o alto nível de inventário resultante (pois via de regra a produção é antecipada com base em “forecasts”, que não se confirmam em grande parte) e o custo global, paradoxalmente, aumenta (embora o falso indicador “custo unitário do produto” diminua). Toda essa contradição é consequência de  inocentemente assumir como verdadeira a premissa de que “o custo diminui com o aumento do volume de produção”. Repito: na verdade, a única coisa que diminui é o cálculo que é feito depois: (Custo Fixo + Custo Variável) / (Quantidade Produzida). As demais coisas, bastante mais relevantes que o tal cálculo, e que acabam determinando o custo global, tendem a aumentar consideravelmente: complexidade de planejamento e  operação, inventários de matéria-prima, inventários em processo, inventário de produto acabado, perdas por obsolescência, danos de manuseio e armazenagem, custo de armazenagem, custo de movimentação e transporte de materiais, custo de controle de estoques etc. etc. etc.Aqui não há espaço para desenvolver muito mais o tema, mas a solução desse conflito passa por romper completamente com o uso do falacioso  indicador “custo unitário do produto” e adotar outro indicador muito mais eficaz: (Throughput) / (Tempo de Uso do Gargalo), onde Throughput = (Preço de Venda) – (Custo Totalmente Variável, sem qualquer alocação de custo fixo) e “Gargalo” é o recurso produtivo com menor capacidade de processamento em toda a cadeia de criação de valor.Funciona muito melhor. Já tive oportunidade de facilitar essa mudança em algumas empresas, e a lucratividade final aumenta consideravelmente, com frequência apontando como prioridade de mercado alguns produtos antes vistos como “patinhos feios” e desbancando outros considerados como “estrelas”.

Um segundo exemplo das moléstias causadas pelo Paradigma do Mundo do Custo são as tremendas peripécias contábeis para chegar ao cálculo do “custo unitário do produto”, com as inevitáveis definições de critérios arbitrários para alocação de custos fixos (por “tempo de mão de obra direta”, por “área ocupada”, por “volume de venda” etc.) e as correspondentes complicações (e custo) no sistema informático, na operação e nos respectivos controles. Como dizia Eli Goldratt, o sistema de custeio ABC (Activity Based Costing) e outros refinamentos do Mundo do Custo são apenas tentativas desesperadas para preservar um paradigma obsoleto em suas raízes, já que as premissas da Contabilidade de Custos tornaram-se inválidas pelo impacto da tecnologia sobre a produtividade. Explico: no início do século passado o custo fixo (“overhead”) era uma pequena parcela do custo total, de modo que a distribuição de parte desse custo fixo a cada unidade produzida era uma aproximação válida e útil para tomar decisões. Entretanto, atualmente o “overhead” é a maior parcela do custo total, o que faz com que o cálculo tradicional do custo unitário do produto gere seríssimas distorções, levando-nos invariavelmente às piores decisões! Diante disso, uma solução (vergonhosamente simples) é definitivamente deixar de lado as complicações de cálculo do “custo unitário do produto” e substituí-lo pelo “throughput unitário do produto”. Isso, conforme ensina a Contabilidade de Throughput, permitirá prever o impacto das decisões e medir a lucratividade final com muito maior rapidez, precisão e facilidade.

Finalmente um terceiro exemplo é o dilema “Parar x Não Parar a Produção” diante de um problema no processo (tais como defeitos, pequenas interrupções de máquina, perda de velocidade). A decisão que normalmente se toma é continuar produzindo, custe o que custar, porque “a linha de produção não pode parar”. E porque não? Porque “maior volume de produção reduz o custo”. E chegamos à mesma falsa premissa anterior. O que faz com que as deficiências crônicas de produção sejam ocultadas, e a partir daí formalmente planejadas, já que os constantes custos resultantes passam a ser incorporados aos cálculos. E pior ainda: as pessoas da operação, diante de cujos olhos tamanha ineficiência se descortina diariamente, recebem uma clara mensagem de passividade, descaso e impotência diante dos problemas que minam sua produtividade. O que, de um modo não desprezível, os degrada como seres humanos.

É por tudo isso que Goldratt ousadamente afirmou: “A Contabilidade de Custos é o inimigo número 1 da Produtividade.” Portanto, já passou da hora de romper com o Paradigma do Mundo dos Custos e adotar seu substituto, o Paradigma do Mundo do Throughput.

No próximo (e último) artigo desta série, abordaremos o Paradigma da Indolência Humana.

 E você? O que pensa sobre este tema?

Qualquer comentário será muito bem-vindo. 

Até a próxima edição!

Eduardo C. Moura

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